Neuroarquitetura na Prática: O Impacto da Luz e Outros Atributos do Design no Seu Conforto
- luaradesigndeinter
- 15 de out. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: há 4 dias
Leia esta história:
“Joana estava à procura do seu novo apartamento. Visitou diversos imóveis, mas foi em um, em particular, que ela se sentiu imediatamente à vontade. As grandes janelas deixavam a luz natural entrar, iluminando cada canto do espaço, e a vista para o parque adicionava uma sensação de calma. Com o tempo, Joana percebeu algo que talvez nunca tivesse dado tanta importância: a luz e o ambiente externo faziam toda a diferença no seu bem-estar.”
Já ouviu essa história antes? Luz natural e uma vista para a natureza são duas das três características que mais valorizam um imóvel, a terceira é a presença de uma área externa, como uma varanda, área privativa, jardim ou quintal. Isso não é papo de corretor, as pesquisas em Neuroarquitetura e Neuroestética sugerem exatamente isso!
Pesquisas Internacionais
Semiha Ergan, uma professora do Departamento de Engenharia Urbana e Civil da Universidade de Nova York, compilou diversos achados científicos na introdução de um artigo científico intitulado “Quantificando a Experiência Humana nos Espaços Arquitetônicos Integrada à Realidade Virtual e Biosensores” (Quantifying Human Experience in Architectural Spaces with Integrated Virtual Reality and Body Sensor Networks).
O título parece difícil, mas o que os cinco autores do artigo querem dizer é que é possível quantificar de forma objetiva a experiência humana dentro de espaços construídos. Inclusive, foi o que eles avaliaram na parte experimental da pesquisa!
Nossa experiência em ambientes construídos
Normalmente, pensamos na nossa experiência dentro de um interior ou ao observar uma fachada, como subjetiva. Temos sensações que muitas vezes nem conseguimos descrever. Hoje, graças à psicologia e à neurociência, os pesquisadores conseguem avaliar características específicas de um ambiente, como nível de iluminação ou de simetria e o efeito dessa característica nas emoções ou na fisiologia.
Por exemplo, você pode criar um ambiente em realidade virtual que seja escuro e outro que seja claro e avaliar as respostas emocionais por meio de questionários, escalas (escala de ansiedade, de bem-estar etc) ou testes fisiológicos que avaliam os níveis de estresse.
Você também pode usar sensores, como aqueles utilizados para exames do coração ou de neurologia e obter dados fisiológicos a respeito da atividade do coração ou do cérebro durante a apreciação de um ambiente em realidade virtual.

Participante da pesquisa observando um ambiente em realidade virtual com biosensores na face (Ref. 1)
Por meio de pesquisas como essas, a comunidade científica chegou a alguns consensos sobre a arquitetura. De acordo com a revisão feita pela autora, os consensos da literatura científica sugerem o seguinte:
· Ambientes escuros aumentam os níveis de estresse.
· A presença de luz natural reduz os níveis de estresse.
· Superfícies escuras que limitam a sensação de amplitude aumentam os níveis de estresse
· A presença de pistas e marcos visuais(elementos arquitetônicos) indicando o tipo de cômodo ou área reduz os níveis de estresse
Esse último dado sobre a presença de pistas e marcos visuais indica que é melhor evitar ambientes ambíguos; isso me lembra, por exemplo, a tendência de se usar o mesmo tipo de piso para dois ambientes próximos, como uma sala de jantar e uma sala de TV; sem diferenciação de espaços o ambiente pode se tornar ambíguo. Felizmente, temos outros elementos que podem indicar a mudança de cômodo, como as cores, os móveis e a iluminação. Mas não podemos negligenciar o piso e nem as soleiras, pois isso limitaria a nossa criatividade e as possibilidades estéticas. Além disso, usar o piso como marco visual que indica a mudança de cômodo nos permite manter um mesmo estilo de mobília e cores em um ambiente. Deixando os contrastes para o piso.
Não podemos nos esquecer que esses consensos da neuroarquitetura costumam ser temporários, algo comum que acontece com disciplinas muito interdisciplinares e recentes.
Pesquisa de 2018 com 356 participantes
Já em 2018, a autora publicou um estudo em que ela encontrou os seguintes resultados sobre a preferência estética das pessoas em ambientes construídos. Veja o gráfico e a explicação abaixo:

(Ref. 2)
1. Presença de luz natural e janelas
2. Janelas largas
3. Exposição à natureza
4. Flexibilidade de isolamento (posso me isolar no ambiente, se eu quiser)
5. Baixa luz artificial
6. Presença de pistas e marcos visuais
7. Texturas variadas
8. Facilidade de acesso
Towards Quantifying Human Experience in the Built Environment: A Crowdsourcing Based Experiment to Identify Influential Architectural Design Features (Quantificando a experiência humana em ambientes construídos)
Por Semiha Ergan, Zhuoya Shi, Xinran Yu (2018)
O gráfico mostra as preferências mais comuns dos 356 participantes!
Alguns dados, contudo, não confirmaram estudos anteriores. Ou seja, quem está certo? Os estudos anteriores ou os estudos de 2018? Não é só porque a pesquisa é mais recente que ela está mais correta, o caso é que a neuroarquitetura é uma disciplina muito recente ainda e todo e qualquer consenso vai acabar sendo temporário.
Um dado que eu achei interessante foi o de simetria. 69% das pessoas preferem um ambiente simétrico. Mas não podemos nos esquecer dos 31%... Ou seja, 110 pessoas que participaram da pesquisa preferem ambientes com assimetria.
Por isso, devemos sempre pensar no que o cliente prefere.
A Neuroestética pode nos dar dicas sobre a preferência dos clientes a respeito da simetria, mas isso é papo pra outro post!
Mesmo com as críticas que podemos fazer aos artigos, esses achados científicos têm muita relevância, pois corroboram o que os princípios biofílicos propuseram lá atrás na década de 70 sem todo o aparato tecnológico e científico que temos hoje. Além disso, não podemos nos esquecer das comunidade indígenas ao redor do mundo que têm falado incansavelmente sobre a importância de nos conectarmos novamente à natureza.
Para concluir, quando consideramos esses resultados junto com outras informações da psicologia ambiental e da neuroestética, temos uma orientação mais acertada sobre qual direção seguir durante a criação de um projeto.
É importante que toda escolha no design tenha uma intenção!
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Referências:
(1) Ergan, Semiha, Ahmed Radwan, Zhengbo Zou, Hua-an Tseng, e Xue Han. “Quantifying Human Experience in Architectural Spaces with Integrated Virtual Reality and Body Sensor Networks”. Journal of Computing in Civil Engineering 33, no 2 (março de 2019): 04018062. https://doi.org/10.1061/(ASCE)CP.1943-5487.0000812
(2) Ergan, Semiha, Zhuoya Shi, e Xinran Yu. “Towards Quantifying Human Experience in the Built Environment: A Crowdsourcing Based Experiment to Identify Influential Architectural Design Features”. Journal of Building Engineering 20 (novembro de 2018): 51–59.
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